sábado, 23 de julho de 2011

  Ela saiu de trás da parede do quarto sorrindo. O cabelo caia nos olhos, ele adorava isso. Vestia as mesmas roupas surradas de sempre, mas o brilho nos olhos era sempre novo. E o sorriso, ah aquele sorriso. Aquele que ao mesmo tempo parecia deformar seu rosto, o completava. Sentará na poltrona de frente para cama, no canto do quarto.
  
  Ele a observava, sentado na cama só com a bermuda curta e larga, com o cabelo preto bagunçado e a cara de sono. Já devia ser umas 5 da tarde e a única coisa que fizeram naquele fim de semana foi ficarem trancados em casa de pijama, falando nada com nada. Como era bom aquilo.
  
  Ele deitou na cama, com as mãos atrás da cabeça. Ela se levantou, com a expressão indefinida, e foi até ele. Colocou as mãos nas paredes e deslizava, parecia estar dançando . Ele a olhava serio agora. Ela chegou nele, sentou-se na beirada da cama, abaixou-se e lhe deu um beijo no pescoço. Pegou o copo d’água que estava no chão, se levantou e voltou a sentar na poltrona.
  
  Ele se sentou, pegou o violão apoiado no canto da parede ao lado da cama e apoiou no colo. Ela o encarava. Ele começou a tocar. Parecia mais estar acariciando o violão, e começou a cantar a música que ela tanto gostava, que tanto a levava para a paz. Ele cantava e olhava para fora, olhava ao longe, não para ela necessariamente. Isso a encantava.
  
  Antes que ele terminasse a música ela se sentou ao lado dele. Abraçou o braço que segurava o violão e encostou a cabeça no seu ombro. Ele foi diminuindo o ritmo da música lentamente, até deixar ela por incompleta, mas na cabeça dos dois ela continuava, e eles continuavam cantando, baixo, sussurrando.
  
  Os dedos dela encontraram os dele. Ele colocou o violão do outro lado da cama e deu a mão para ela. Os dedos deles brincavam, com os próprios encarando suas mãos. Eram peles macias, mas ao mesmo tempo mãos surradas pelas cordas do instrumento e a outra pelo serviço domestico. Eles se olhavam e sorriam e ele percebeu os olhos dela cheios de lágrimas. Se assustou.

   - Por quê?
   - Por que... – e ela sorriu.
  
  Ela o amava, ele sabia disso. Sorriu para ela de volta e passou o braço na cintura dela,  a deitou no seu colo, apoiada no seu peito, e com a outra mão continuaram a brincar, cantando a passagem da música que tanto a encantava...

Nenhum comentário:

Postar um comentário