sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Adoro e Odeio


Adoro o cheiro de perfume que fica na roupa
Porém odeio o abraço de adeus que tive que dar para tê-lo.
Adoro a bagunça que eu faço na procura do que eu quero
Odeio ver tudo jogado no caminho à espera de arrumação.
Adoro quando posso falar alto futilidades por estar bem
Mas odeio a voz de todos quando me sinto enraivecida ou mal.
Adoro quando conversam comigo me chamando por apelidos
E odeio quando sinto ciúmes ou vejo indiferença.
Adoro saber que acabo de entrar em um fim de semana
E sempre odiei me lembrar da segunda.
Adoração por saber de algo novo ou excitante a caminho
Desesperando-se por saber da mesmice logo em seguida.
Adoro quando olho pra alguém e a vejo me olhando
Odeio quando olho pra alguém e ela de repente me vê a observando.
Adoro quando uma conversa flui calmamente
Mas odeio quando me sinto nervosa no silêncio.
Adoro quando o dia está forte e bonito pra poder sair
Odeio quando me queima ou quando o vejo passar na sala de casa
Da mesma maneira que adoro o escuro quando quero escrever
E quando o odeio por fazer mil e uma imagens irreais surgirem pra em amedrontar.
Adoro quando me surpreendo comigo mesma ou vejo algo bom
Odeio quando me sinto desprotegida ou vejo algo que me faz mudar pro mau humor.
Adoro quando acariciam minha pele mesmo que sem intenção
Mas odeio beijos, abraços e apertos de mão por formalidade
Adoro sentar e deitar em chãos e gramas com boas companhias
Odeio as sujeiras deixadas nas roupas e matos no cabelo.
É tão bom quando se tem liberdade de chegar e abraçar alguém
E pura vontade quando se quer fazer isso, mas não se acha jeito ou permissão.
Adoro conhecer e viajar pra lugares
Mas odeio não conseguir dormir estranhando onde estou.
Adoro quando controlo um sonho muito bom
E odeio acordar assustada e suando no meio de um pesadelo.
Adoro quando visto uma roupa que era grande que agora me serve
Odeio ver algo que eu adorava ficar pequeno e perceber que eu cresci.
Adoro quando vejo crianças sorrindo pra mim
Odeio quando vejo algumas delas em condições desumanas.
Adoro quando fantasio ou aprendo sobre o mundo de alto nível
E me envergonho quando lembro que existem pessoas morrendo por isso.
Adoro poder tirar os pés e a cabeça daqui pra lugares bem longes
Mas odeio quando volto e não vejo nada daquilo aqui.
Adoro quando ouço palavras doces de quem gosto
Odeio a insegurança de alguns dias passados sem tê-las de novo.
Adoro tirar difíceis e alegres sorrisos
E odeio o quanto rio fácil de tudo.
Adoro quando prevejo reações e palavras e posso controlar a situação
Do mesmo jeito que odeio ser surpreendida.
Adoro conhecer pessoas talentosas e inspiradoras
Odeio por um minuto imaginar que jamais conseguiria ser assim.
Adoro quando elogiam algo simples e sincero que eu faço ou falo
E odeio não ser reconhecida depois de muito esforço pra algo sair bom.
Adoro quando o que eu gosto ou sei fazer sai fácil e com confiança
E me desespera pensar que por um minuto perdi o pouco que me resta de bom.
Adoro poder dizer o que acho e sinto por alguém a vendo ficar sem graça, mas contente
Odeio quando percebo que alguém guarda algo sobre mim e não me fala, sem saber o quanto me faz bem.
Adoro quando me lembro dos exagerados sorrisos que um dia dei com alguém
Odeio quando choro lembrando-me deles.
Adoro saber que ainda ri das minhas bobeiras
Odeio me lembrar que já magoei e isso nunca passará.
Adoro acima de tudo, me lembrar dos bons e longos momentos
Porém odiar saber que não voltarão jamais e que hoje servem apenas de consolo.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Talvez haja uma razão pra tanta dificuldade
Amanhã quem sabe, não seja um motivo para se superar;
Talvez haja uma explicação para toda essa desanimação
Quem sabe amanhã não seja o que te motiva a seguir;
Talvez a gente veja em toda essa concorrência
Uma luz ou destaque que paire por nós;
E quem sabe amanhã não seja o motivo para sorrirmos
Ainda acreditando, por mais que tudo vá contra, em nós mesmos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011


Querer adormecer e entristecer não passam de sinônimos
Em ambos os olhos pesam e se fecham
Ficam miúdos e se destacam por não estarem destacados.
Quer isolar-se e se quer carinho
Não quer palavras altas ou felicidade alheia.
Quer ter quem te veja e entenda, mas não mexa
Pois só quer estar ali da sua maneira.
Usam um ao outro para se justificarem
E se não bastar, inventam um terceiro sinônimo.
Quer apenas se ter outro dia
Com outra chance de acordar de outro jeito.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


Bebi um pouco de você.
No começo não gostei do aspecto, mas todos comentavam das reações, então resolvi beber uma pequena dose.
Era amargo, me deu nojo e do sabor não gostei. Mas era algo excitante.
Provei outra dose pra confirmar e o gosto foi estranho, uma mistura de amargo, mas ao mesmo tempo um pouco doce. 
Passou a ser um pouco melhor quando segurei um pouco na boca até eu engolir, e depois me descer rasgando.
Me assustei e pensei em não mais beber. 
Cai em tentação e pedi outra dose de você.
Tinha gosto de “quero mais” e pela minha falta, estava leve e divertida, tão ingênua, tão boa que me fez chorar por intermináveis horas. Percebi que me fez mal, apesar de ser tão bom.
Ouvi conselhos sobre parar de beber e larguei da bebida enquanto analisava minhas reações.
Sai, lá estava. Minha bebida.
Bebi o que tinha de uma vez só, sem me preocupar com nada, virando o que tinha parecido com aquele gosto.
Meu estomago embrulhou, me deu dor de cabeça, comecei a chorar e era capaz de cair em quaisquer braços pra me curar disso. 
Me tranquei num banheiro e vomitei tudo aquilo dentro de mim, desde bebida até meu nojo. 
Vomitei até engasgar de tanto que era a intoxicação daquela dose.
Esperei longos minutos sem reação e sem vontade. 
Resolvi nunca mais beber e cá estou em uma abstinência. 
Sem bebida, sem problema. Sem bebida, sem sentimentos. Sem bebida, sem você.
Uma dose de vez enquando não mata. Só te faz querer morrer.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011


Talvez seja só mais um daqueles dias em que as coisas não dão muito certo
Em que sair de casa não faz muito sentido, em que a chuva serve de consolo
Mais um daqueles que não da pra entender muito o que se passa
Em que você perde algumas horas distraído com o nada
E em que o nada de repente vira seu tudo.
Quando eu me reviro a procura de mim mesma
Dentro das cenas fundidas ao meu descuido na realidade
Quando tento resgatar e desmontar estruturas construídas.
E como se fosse normal e não afetasse esse boomerang
De idas e voltas que mais que depressa, eu consigo pegar
De dentro do que vai e vem em mim, e em você.

Não me deixei agora, depois de tantas conversas e proteção
Ainda mais agora, nesse agora, em que eu necessito mais do que nunca
Desses detalhes e sustentações para o que eu tenho feito
Cada vez em que eu me perco repentinamente dessa consciência
E quando volto, volto como se estivesse em mil erros cometidos e falados.

Mas continua indo, escondendo-se na sombra e revelando-se nas nuvens
Quando tudo o que queria era andar despreocupado, por entre a gente
Lá a tantos céus de distância, sendo um objeto levando para tão perto
Nas folhas de caderno grampeadas com tudo aquilo que deve ser guardado
Para que sua fiel e verdadeira ponte a quebre, onde nada mais
É segredo ou envelope de confissões, dentro não mais de mim.
 Não engolindo mais o que não gosta, não mentindo pra quem não deve
Atravessando agarrado aos suportes de apoios humanos, suas pessoas
Enrolando, esperando, questionando, produzindo, pensando, adivinhando.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Feliz Dia das Crianças

  Quarta-feira à tarde, feriado de Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças.
  Sentei em um dos bancos da praça de minha cidade com minha prima, estávamos passeando pelas ruas depois do almoço. Paramos ali para tomar sorvete.
  Conversava com ela quando dois garotos passam, um deles segurando uma caixa com saquinhos dentro. Eram do mesmo tamanho, porém um loiro e outro moreno. Ela os chama:
  - Elias! Quanto tempo menino. Você lembra de mim? – perguntou ela
  Os meninos se aproximaram e o loiro falou com ela:
  - Mais ou menos... – respondeu ele.
  - Eu trabalhava na loja de couro do Marcos, ali em cima – apontou para o começo da rua - Você ia buscar cola pro seu pai costurar couro, lembra?
  - Loja do Marcos? – perguntou ele confuso – Ah, acho que eu sei – respondeu não muito certo – Você me conheceu eu já era grande?
  - Eu te vi andando com sua mãe de chupeta na boca, eu te conheço desde neném – minha prima ria
  - Eu não to me lembrando... – ele estava sem jeito. – Espera. Acho que eu lembro sim, da Loja do Marcos mesmo. Agora eu lembrei – ele estava confiante agora.
  O irmão dele se aproximou e eles começaram a falar entre si:
  - Eu não tenho trocado – disse Elias, o menino loiro.
  - O que eu faço então? – perguntou o outro, que era difícil saber se era o mais novo porque eram quase do mesmo tamanho.
  - Troca o dinheiro ali no bar – mandou Elias, e o outro foi.
  Percebi então que as duas crianças estavam trabalhando. O moreno foi em direção ao bar e eu perguntei:
  - Quem é o mais velho?
  - Sou eu – respondeu ele praticamente orgulhoso
  - Ah... Quantos anos você tem? – perguntei curiosa
  - Onze – respondeu ele orgulhoso de novo – E o Davi tem nove. – Soube então que o caçula se chamava Davi.
  - Que roupa bonita a sua. – elogiou minha prima para ele.
  - Ganhei de dia das crianças – começou ele entusiasmado – Ganhei da minha avó. Ela pagou 70 reais de tudo! 40 da camiseta e 30 da bermuda – ele sorria
  - Nossa, são novinhas então e muito bonitas também, e de marca né , pra custar tudo isso – ela sorria pra ele
  - Não são de marca não, são falsas – ele olhava pra camiseta e dava risada da situação, nós também riamos – Mas não tem problema. Meu irmão também ganhou...  Nós já tomamos banho e colocamos elas já, antes de vir pra cá.
  - Ta certo, tem que usar mesmo – falei primeiro e minha prima concordou.
  - E seu pai, trabalhando com couro ainda?
  Nessa hora mudei minha atenção ao menino mais novo, que agora passava de mesa em mesa em um dos cafés e pontos de encontro mais caros da cidade, oferecendo o amendoim que vendiam na pequena caixa. Quando voltei minha atenção, perdi a conversa dos dois.
  - Ah, e o Luan? Trabalhando? – continuou ela
  - Sim, trabalhando pra ajudar meus pais também – respondeu.
  Luan é o irmão mais velho, 18.
  - Você ta em que série?
  - To na quinta e o Davi na terceira. – Eles só têm onze e nove anos.
  Lembrei que era dia das crianças. Na verdade, já estava incomodada de ver as duas crianças naquela situação, e pior foi quando lembrei que era O dia deles.
  - Você se importa se eu te desejar feliz dia das crianças? – perguntei com receio que ele se revoltasse e se achasse adulto.
  - Não me incomodo não – e deu risada
  - Feliz dia das crianças pra você então – disse aliviada e sorrindo
  - Obrigado. – me respondeu. O sorriso dele fora maior de quando eu perguntei se era o mais velho, ou que séries estavam. Era como se ele sentisse orgulho do seu dia. De poder falar que não meu, nem da minha prima, mas dele.
  O irmão caçula chegou, era muito tímido perto do mais velho.
  - E com você, tudo bem? – perguntou minha prima
  - Tudo – respondeu ele rápido e se virou para o irmão, dizendo que não vendeu nada.
  - Ah, nós vamos indo então – disse Elias – Tchau.
  - Tchau – respondemos ela e eu.
  E eles atravessaram a praça em direção a outra rua pra tentar vender nos bares. O emprego de trabalhar com couro do pai? A cola tinha outro destino, que passava longe de ser fazer roupas pra sustentar uma família. Estavam lá, Elias e Davi, onze e nove, trabalhando pelas ruas da cidade pra tentar sustentar o vicio do alcool e das drogas dos pais e, provavelmente, do irmão.

  Feliz Dia das Crianças.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011


Tenho pensado sobre segredos
Os contados, os guardados e os que querem ser falados
Segredos que contei que espero estarem guardados
Segredos que gostaria de ouvir e guardar
Segredos que querem ser contados a mim
Mas antes das tentativas o medo chegou primeiro
E cá estou eu, tentando adivinhar alguns dos seus segredos.
Parei pra tentar segurar toda a minha vontade
De apenas chegar e começar a desabafar, perguntar
Essa vontade de interrogar e ao mesmo tempo te contar...
Não por maldade. Não por curiosidade. Não pra contar aos outros.
Eu não preciso disso, posso ser mais do que isso
Queria confiança só pra tornar o que eu prometi
Eu tenho isso em mim, além da vontade e de guardar
Acho que apenas tornar mais real.
Apesar de falar tanto, exagerar tanto
Um poço de exageros que gera desconfiança
Definiria como um poço de divisões por pessoas
Na qual o exagero é no fútil
E no fundo, literalmente, guarda apenas
De quem quer tanto apenas
Apenas por querer tanta confiança.
Mais do que o agora e as situações que se encontram
Estarei aberta pra você
Mais do que precisar convencer ou inventar
Seria apenas por você
Mais do que medo ou incerteza
Seria por nós.
Conte-me seus segredos.
Fica ai minha vontade
De escolher a dedo para ouvir e contar
Segredos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011


Alguém?
Voluntários à caridade contra o desespero
Que queiram apenas amparar ou salvar outros
Alguém se candidata?
Me tirar de casa pra algum lugar longe
Quem sabe pra qualquer anônima ou desconhecida casa
Que queira ouvir um pouco de futilidades e manhas?
Alguém que queira
Nos tirar dessa mesmice, dessa chatice
Me tirar de quem me colocou aqui
Alguém que às vezes queira se perder também
Sem precisar do papel de responsabilidade
Que te leve pra longe dos gritos e berros
Que não se importe em te ver de cabeça baixa;
Talvez conheça esse alguém
E talvez esse alguém queira me levar também
Mesmo que indiretamente, com palavras já seria bom.
Não importa onde fosse
Se você me levasse, eu iria agora
Por mais que meu dever fosse ficar e ajudar
Cansa. Uma hora cansa... Espere um tempo, passará
Mas agora só quero ir embora
Ser levada daqui
Pra um campo... Uma montanha... Uma praia deserta
Não precisa ser longe e nem de verdade
Mas fato é que eu quero alguém que agora vá comigo,
Que não me conheça profundamente pra não me estranhar
Mas que não seja desconhecido pra poder se interessar.
Alguém que converse sem aconselhar
Mas que ouça preocupado
Que demonstre a necessária atenção que meu desespero
De ir embora, merece.
Não sei o que mais fácil ou apropriado agora
Me colocar onde devo e deixar
Ou fazer o que me resta, que seria convicto
O que eu quero?
Fugir com alguém talvez... Mas só talvez
Agora, nesse dia, nessa escrita, pra ontem e quem sabe ate amanhã
Não pra namorar, pra rir, ou pra me entender
Pra eu poder olhar, brincar com as mãos
Me sentir menos responsável ou com deveres também.
Queria ir embora apenas
Pra longe deles que me cobram
E pra perto de quem não me questiona
Só me admira, só me faz rir
Alguém que eu quero conversar
Com quem é tão bom poder conversar...
Voluntaria-se a me levar?
Sem malas, permissões, avisos, anúncios ou outdoors
Somente me levar seria o suficiente.

sábado, 1 de outubro de 2011

Paciência


Eu não tenho mais paciência
Com os carros na rua
Com os passos devagar nas calçadas
E com os cachorros que latem sem parar.
Sem paciência para sermões de responsabilidade
Para ouvir músicas inteiras
E para responder perguntas retóricas.
Saco nenhum para saber de fofoca alheia
Aguentar lamentações de quem está bem
E pessoas insistindo na quebra do maravilhoso silêncio.
Desculpem-me a secura na fala
Mas não há mais paciência para aguentar risadas forçadas,
Nem minhas próprias risadas
Pra ser atacada e não atacar
Correr atrás e ter que esperar
Esperar palavras antes da situação imaginada.
Sem paciência pra dramas de amor,
Casais melosos com juras eternas
Amigos de horas que se dizem pra sempre
E meus pronomes possessivos que nunca me pertenceram.
Só tenho testado minha paciência com minha paciência,
Me desafiado a ter calma e paciência...
Mas se não fosse tanta folga,
A televisão no volume máximo
E ninguém pra tomar uma porcaria de atitude!
Paciência, paciência