quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Feliz Dia das Crianças

  Quarta-feira à tarde, feriado de Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças.
  Sentei em um dos bancos da praça de minha cidade com minha prima, estávamos passeando pelas ruas depois do almoço. Paramos ali para tomar sorvete.
  Conversava com ela quando dois garotos passam, um deles segurando uma caixa com saquinhos dentro. Eram do mesmo tamanho, porém um loiro e outro moreno. Ela os chama:
  - Elias! Quanto tempo menino. Você lembra de mim? – perguntou ela
  Os meninos se aproximaram e o loiro falou com ela:
  - Mais ou menos... – respondeu ele.
  - Eu trabalhava na loja de couro do Marcos, ali em cima – apontou para o começo da rua - Você ia buscar cola pro seu pai costurar couro, lembra?
  - Loja do Marcos? – perguntou ele confuso – Ah, acho que eu sei – respondeu não muito certo – Você me conheceu eu já era grande?
  - Eu te vi andando com sua mãe de chupeta na boca, eu te conheço desde neném – minha prima ria
  - Eu não to me lembrando... – ele estava sem jeito. – Espera. Acho que eu lembro sim, da Loja do Marcos mesmo. Agora eu lembrei – ele estava confiante agora.
  O irmão dele se aproximou e eles começaram a falar entre si:
  - Eu não tenho trocado – disse Elias, o menino loiro.
  - O que eu faço então? – perguntou o outro, que era difícil saber se era o mais novo porque eram quase do mesmo tamanho.
  - Troca o dinheiro ali no bar – mandou Elias, e o outro foi.
  Percebi então que as duas crianças estavam trabalhando. O moreno foi em direção ao bar e eu perguntei:
  - Quem é o mais velho?
  - Sou eu – respondeu ele praticamente orgulhoso
  - Ah... Quantos anos você tem? – perguntei curiosa
  - Onze – respondeu ele orgulhoso de novo – E o Davi tem nove. – Soube então que o caçula se chamava Davi.
  - Que roupa bonita a sua. – elogiou minha prima para ele.
  - Ganhei de dia das crianças – começou ele entusiasmado – Ganhei da minha avó. Ela pagou 70 reais de tudo! 40 da camiseta e 30 da bermuda – ele sorria
  - Nossa, são novinhas então e muito bonitas também, e de marca né , pra custar tudo isso – ela sorria pra ele
  - Não são de marca não, são falsas – ele olhava pra camiseta e dava risada da situação, nós também riamos – Mas não tem problema. Meu irmão também ganhou...  Nós já tomamos banho e colocamos elas já, antes de vir pra cá.
  - Ta certo, tem que usar mesmo – falei primeiro e minha prima concordou.
  - E seu pai, trabalhando com couro ainda?
  Nessa hora mudei minha atenção ao menino mais novo, que agora passava de mesa em mesa em um dos cafés e pontos de encontro mais caros da cidade, oferecendo o amendoim que vendiam na pequena caixa. Quando voltei minha atenção, perdi a conversa dos dois.
  - Ah, e o Luan? Trabalhando? – continuou ela
  - Sim, trabalhando pra ajudar meus pais também – respondeu.
  Luan é o irmão mais velho, 18.
  - Você ta em que série?
  - To na quinta e o Davi na terceira. – Eles só têm onze e nove anos.
  Lembrei que era dia das crianças. Na verdade, já estava incomodada de ver as duas crianças naquela situação, e pior foi quando lembrei que era O dia deles.
  - Você se importa se eu te desejar feliz dia das crianças? – perguntei com receio que ele se revoltasse e se achasse adulto.
  - Não me incomodo não – e deu risada
  - Feliz dia das crianças pra você então – disse aliviada e sorrindo
  - Obrigado. – me respondeu. O sorriso dele fora maior de quando eu perguntei se era o mais velho, ou que séries estavam. Era como se ele sentisse orgulho do seu dia. De poder falar que não meu, nem da minha prima, mas dele.
  O irmão caçula chegou, era muito tímido perto do mais velho.
  - E com você, tudo bem? – perguntou minha prima
  - Tudo – respondeu ele rápido e se virou para o irmão, dizendo que não vendeu nada.
  - Ah, nós vamos indo então – disse Elias – Tchau.
  - Tchau – respondemos ela e eu.
  E eles atravessaram a praça em direção a outra rua pra tentar vender nos bares. O emprego de trabalhar com couro do pai? A cola tinha outro destino, que passava longe de ser fazer roupas pra sustentar uma família. Estavam lá, Elias e Davi, onze e nove, trabalhando pelas ruas da cidade pra tentar sustentar o vicio do alcool e das drogas dos pais e, provavelmente, do irmão.

  Feliz Dia das Crianças.

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